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auto-terapia

um blog onde escrevo o que sinto e partilho as minhas ideias para quem quiser ler

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Bater ou não bater: eis a questão!


CrisSS

Agora que já voltámos de férias e entrámos na nossa frenética rotina habitual deparámo-nos com uma evidência avassaladora: os nossos filhos adorados estão muito mal-educados! 

 

Para qualquer lado que me vire só ouço queixas, desabafos e comentários vários sobre o horror que é enfrentar todos os dias os pequenos monstros que temos lá em casa. Eu cá não sou excepção e inclusive dei comigo ontem a defender as vantagens inequívocas de bater nos filhos contra as desvantagens óbvias de os castigos não surtirem efeito. E foi nesse momento que me dei conta: estou louca!

 

Como é que é possível que eu bata no meu filho (e não é só de vez em quando) depois de tudo o que apregoei ao longo dos anos sobre como educar crianças de forma pedagógica, sem recurso à violência e, principalmente, depois de eu ter garantido a mim mesma que nunca iria bater num filho, porque não queria fazer o mesmo que a minha mãe me fez a mim? A única resposta que tenho para vos dar é uma verdade la palisse que todos os pais e mães já compreenderam: isto de educar é muito mais difícil do que a gente pensava! Aliás, atrevo-me a dizer que é mesmo a tarefa mais difícil com a qual nos confrontamos na vida.

 

E nada nos prepara para o que aí vem... Apesar de ter passado toda a minha gravidez, a partir do momento em que soube que ia estar grávida, a ler livros sobre educação e pedagogia, tenho de confessar-vos que não sei mais do que todos os outros que não os leram. Não há receitas milagrosas que nos ajudem quando eles não nos querem obedecer, quando eles fazem orelhas moucas, quando eles nos ignoram deliberadamente! Não há truques que nos valham sempre que eles fazem uma birra ou se recusam a ir para o banho, ou não fazem os trabalhos de casa! A única solução parece ser a força, sim amigos, a força bruta e os gritos, claro, que acompanham sempre estes momentos de indisciplina dos nossos rebentos...

 

Perante este cenário de violência familiar que aqui descrevi (sim porque não se iludam as mães que como eu gritam e batem nos filhos: se estivessemos num país nórdico já estávamos presas) lá comecei a pensar que se calhar o que se passa atualmente entre mim e o meu filho não é muito diferente do que se passou entre mim e a minha mãe, ou seja, talvez eu esteja a educar da mesma forma que ela fazia... Este pensamento que assim à primeira vista não parece ser muito animador, veio a revelar-se mais útil quando percebi que afinal eu estava a ser mais uma vítima inconsciente daquilo que na sociologia chamamos reprodução cultural, e por isso resolvi partilhar convosco esta ideia.

 

O que se passa é que todos nós durante o nosso processo de socialização familiar vamos adquirindo um conjunto de comportamentos e atitudes que nos são transmitidos (qual herança cultural) pelos nossos pais e familiares com os quais partilhamos a nossa infância e, quer a gente queira quer não, quando um dia somos mães (e pais) vamos reproduzir esses comportamentos e atitudes em relação aos nossos filhos. Isto é, de forma inconsciente imitamos o estilo educativo dos nossos pais e damos connosco a fazer aos nossos filhos exactamente o que eles nos fizeram a nós...

 

Não pensem que o meu objectivo ao partilhar esta ideia é desresponsabilizar-nos do facto de batermos nos nossos filhos, algo do tipo: a culpa é da minha mãe que também me batia! Não, a minha ideia é tomarmos consciência desse facto, para podermos refletir sobre se é mesmo dessa forma que queremos educar os nossos filhos. Eu quando penso nisso tenho logo como primeira reação que tenho de mudar de atitude, pois tenho obrigação de fazer as coisas de forma diferente da minha mãe.

 

Sei que o que estou a dizer não é pacífico, até porque haverá muitos casos que têm como exemplo para educar os filhos os seus próprios pais, mas eu estou a falar de muitas mães como eu que muito criticaram as suas mães e que agora chegam à conclusão que a herança foi muito forte e que estão a fazer o mesmo que sempre criticaram...

 

Aqui há uns meses, depois de ter batido com uma colher de pau no rabo do meu filho, jurei a mim própria que nunca mais lhe voltava a bater (e realmente depois dessa, agora basta mostrar-lhe a colher de pau) e não cumpri! Acho que não cumpri, não porque ele seja especialmente malcriado, mas porque eu não sei ou não consigo fazer melhor. Se eu quiser ser objetiva, tenho de admitir que ele não é nenhum delinquente infantil e que as má-criações até nem são assim por aí além... Até se eu fizer uma verdadeira análise posso concluir que ele se porta assim porque eu o mimei demais e porque lhe estabeleci muito poucas regras... Consigo até perceber que às vezes ele está cansado e tem uma personalidade forte que herdou de mim... Ou seja, no fundo ele é um produto da educação que eu tive e da educação que eu lhe dei e se ele às vezes não se porta como eu gostaria talvez seja apenas porque é criança e é isso que elas fazem: agem como bem entendem sem constrangimentos sociais, regras ou autoridade exterior! E que bem que isto me soa...

 

Pois é verdade, o que nós estamos a tentar fazer à força é transformar um ser livre, autêntico, puro e com grande inteligência emocional, num ser dócil, pacato, disciplinado, obediente. Mal comparado é o mesmo que tentar domar um cavalo selvagem, daí ser tão difícil...

 

Mas bater é terrível! Acho que vou voltar aos livros ou pedir ajuda aos psicólogos e, principalmente, encher-me de paciência, mas não vou mais gritar nem bater.

 

Sei que se estão a rir agora e a visualizar-me já amanhã com a colher de pau na mão, mas deixem-me acreditar que é possível, nem que seja só por um dia. É que quando me vejo ao espelho já só vejo a minha mãe...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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