Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

auto-terapia

um blog onde escrevo o que sinto e partilho as minhas ideias para quem quiser ler

auto-terapia

um blog onde escrevo o que sinto e partilho as minhas ideias para quem quiser ler

Parabéns "filhote"... da tua "mãedrasta"...


CrisSS

Hoje o meu "filhote" André faz 18 anos! Sim, o meu "filhote", porque ele apesar de ser o meu enteado, também é um pouco meu filho, é um filho do coração! 

Lembro-me perfeitamente que foi na segunda ou terceira vez que saí com o teu pai, que ele muito nervoso diz que tem uma coisa para me contar: "- Tenho uma coisa para te dizer..." E eu apreensiva com o que aí viria, digo-lhe que avance: "- Sabes, tenho um filho... E eu -"Áh, ok, é só isso, tudo bem!" E percebi desde logo o quão importante eras para o teu pai e o imenso sofrimento em que ele estava por tua causa... O que eu não percebi logo nesse dia foi o papel que irias ter na minha vida!

Conheci-te pouco tempo depois, pois foi muito importante para o teu pai que no pouco tempo livre que ele tinha pudesse estar com as duas pessoas mais importantes para ele naquela fase da sua vida. Eras um bébé lindo, muito fofinho, com aquele cabelo à tigelinha, mas um pouco desconfiado (como o teu pai), muito chorão e que não comia absolutamente nada (o que sempre me fez muita confusão como sabes) e eu é claro entrei em força nesta relação com todo o meu instinto maternal ainda não utilizado...

Sim, porque no meu caso, a figura clássica da madrasta não se aplicou (espero que concordes) e nunca senti que tinha de te afastar do teu pai ou que tinha de competir contigo pelo afecto dele e muito menos como já ouvi inúmeras histórias, achei que o teu pai iria gostar menos dos meus filhos com ele do que de ti... Não tive dúvidas de que podíamos ser todos uma família, diferente sim, mas todas o são, e que os laços que estávamos a criar seriam para sempre! É assim que eu sou, como sabes, e não me arrependi de nada do que fiz em relação a ti, a não ser talvez de não ter ainda tido mais tempo contigo, mas foste sempre o meu "filhote" emprestado... E eu "emprestei-te" toda a minha família, por isso passaste a ter mais tias, mais avós e muitos, muitos, mais amigos, que te adotaram sem reservas!

Durante muito tempo foste o nosso bébé - quando podíamos usufruir de ti - e juntamente com a Marty (que foi o teu primeiro cão e que te adorava) foste alvo de todo o nosso afeto e pude testar contigo todas aquelas teorias que eu lia nos manuais de educação e pedagogia e nos trabalhos das minhas alunas. Gosto de pensar que te ajudei a ter algum gosto pela leitura, quando impus ao teu pai a leitura da história para dormir. E sei que não era bem a prenda que tu querias, mas foram muitos os livros que te ofereci ao longo destes anos! Gosto de pensar que temos algumas coisas em comum, como gostar de banda desenhada, mas o teu sentido de humor é o do teu pai, sem dúvida! Sei de algo que temos em comum: o amor pelos animais e nisso és muito mais parecido comigo do que o meu próprio filho... Chateei-te muito por causa da alimentação e preocupei-me muito com isso, mas felizmente, hoje em dia comes que nem gente grande e só tenho pena que não gostes de fruta...

Sempre foste uma criança incrível, muito forte e corajoso! A tua paixão era e é o futebol... Ainda te estou a ver a correres com a bola nos pés pelos corredores da casa de Massamá e depois aqui. Conseguiste que eu que não ligava nenhuma ao futebol fosse passar tantas manhãs e tardes a ver os teus jogos e vingança suprema ainda puseste o bichinho do futebol no teu irmão! E como me fazia confusão que tu tão pequenino e com tanta coragem entrasses naqueles campos, no meio dos outros sempre maiores que tu, e ali andasses a fintar meio mundo com a bola nos pés, sem medo de te aleijares! O pior depois era desinfectar as feridas...

Também me lembro de como tinhas medo do mar e de te ensinar a boiar e a nadar no nosso Cabril, onde aprendeste a superares-te e mais uma vez corajoso até saltavas das pedras, para agora mais crescidinho chegares a mergulhar de tão grandes alturas!

Sempre foste muito inteligente e a escola para ti não encerrou dificuldades de maior. Fiquei tantas vezes surpreendida com o pouco que estudavas e a forma como mesmo assim conseguias tirar boas notas! Mas sabendo as tuas capacidades não duvido que podes alcançar o que quiseres se apenas te dedicares um pouco mais...

Nunca duvides de que és especial e que a timidez de que te queixas agora e que herdaste do teu pai, um dia vai ser valorizada por aquela miúda/mulher também especial que saiba ver para além do que és por fora (giríssimo) e que te olhe por dentro e veja o quão maravilhoso és! E não desesperes porque se até o teu pai conseguiu encontrar quem o aturasse também há esperança para ti...

Muitos parabéns "filhote" por estes teus 18 anos e não julgues que já chegaste lá, pois estes são apenas o princípio de tudo o que ainda aí vem e que será muito melhor!

Adoro-te!

 

PS - Recado da "mãedrasta": E agora que tens cada vez menos tempo não te esqueças de nós, principalmente do teu irmão que te idolatra!

 

 

 

 

 

 

Adeus Marty... até sempre!


CrisSS

A minha Marty já não está entre nós... A minha Marty era o "mê" cão! O cão mais lindo do mundo (como eu lhe dizia...). E agora já não está aqui comigo e hoje ao acordar senti essa ausência em toda a casa e em todo o meu ser...

A Marty era um cão de água espanhol ou perro turco, como a veterinária insistia em chamar-lhe. Não conheciámos mais nenhum aqui nas proximidades e apenas uma única vez encontrámos uma cadela igual, mesmo igual, preta e branca, na estação de serviço da Ponte Vasco da Gama. E nem queríamos acreditar! Apesar de estarmos sem a nossa Marty, falámos imenso tempo com os donos e trocámos experiências e características dos nossos cães, que eram mesmo muito parecidos. Nunca mais vimos nenhum igual! Por isso a Marty era única! Por isso e por outras coisas...

A Marty veio à nossa vida por intermédio de uns amigos, grandes amantes de cães e de todos os animais, que a trouxeram de Sevilha, onde ela estava numa feira de adopção. Trouxeram-na para casa, deram-lhe banho, trataram dela e iniciaram a sua busca por uns donos, pois eles já tinham os seus cães e acharam que a Marty merecia uns donos especiais, só para ela. Apresentaram-na com o seu nome - "Martírio Del Gran Poder" - e com um cartão de visita onde se dizia que ela era - "Hija de la Perra de Huelva" - nascida na Andaluzia, cidade de Sevilha, a 1 de Abril de 2002, ilustrando o quão importante ela era e viria a ser mais ainda nas nossas vidas...

E foi assim que a Martírio chegou a 22 de julho a Portugal e umas semanas mais tarde à nossa vida, por graça de uma amiga que achou que este seria o cão ideal para mim e para o Mário com quem eu estava já a partilhar a vida. Fomos vê-la e, claro, foi amor à primeira vista, ficámos com ela e chamámos-lhe Marty, pois o nome de Martírio, pareceu-nos premonitório demais.

A Marty já tinha cerca de 6 meses quando a adoptámos e num cão isso faz muita diferença. É um pouco como os primeiros anos de desenvolvimento de um bebé, que são decisivos para a formação da sua personalidade. Com a Marty passou-se o mesmo e ela tinha todos os tiques de um cão que foi adoptado e cujo passado encerra uma história de abandono e algum sofrimento. Tornou-se um cão inseguro, medroso, mas também super-protetor, era a minha sombra, completamente dependente do nosso afeto e atenção...

A Marty era também um cão pastor. Ao contrário do que o nome da raça indicava não era uma amante de banhos, embora adorasse deitar-se na água para se refrescar. Mas o que ela gostava era de campo, de erva, de correr livre, de preferência atrás de alguém ou de outro cão. Agia como se estivesse a guardar um rebanho, impedindo os intrusos de se aproximarem e mantendo as suas ovelhas bem protegidas, não hesitando em dar uns toques de aviso se alguém se aproximasse de nós de repente. Mas era muito meiga, extremante carente e todos os nossos amigos que com ela privaram sabem o quão chata ela podia ser, quando queria festas e atenção. 

Era um cão muito inteligente (como todos, mas esta era a minha cadela) e nós conseguíamos comunicar de várias formas. Ela percebia tudo o que eu queria que ela fizesse e conseguiu arranjar forma de me comunicar o que precisava e em último caso se a comunicação falhasse, insistia em ganir até conseguir o que queria. E ganhava sempre!

A Marty era maravilhosa e veio também às nossas vidas para nos ajudar a sermos pessoas melhores... Como ela não era perfeita (como ninguém é) e tinha uns donos com a mania da perfeição, nem tudo foi fácil e cometemos muitas injustiças com a Marty, das quais nos arrependemos profundamente, mas sei agora que essa foi a sua missão... Como me doem as vezes em que lhe disse que ela era uma chata que não me largava, em que não me apeteceu levá-la à rua a dar grandes passeios, em que lhe dei uma palmada porque se atirava a toda a gente na rua ou quando ladrava furiosamente sempre que tocavam à campainha...  Tudo isto ela aguentou, porque era assim que ela era e não sabia ser diferente, nem conseguia mudar e cabia-me a mim aceitá-la como ela era, sem críticas, sem julgamentos, com paciência, tolerância e amor, pois é esta a única forma de amar alguém - incondicionalmente.

Sei agora o quão especial a Marty foi na minha vida e como sempre, às vezes só aprendemos tarde demais, e só quando ela começou a ficar doente e a perder as suas faculdades, nos apercebemos que nada do que nos irritava tinha importância... pois agora dávamos tudo para a encontrar debaixo dos nossos pés e tropeçar nela e sentimos a sua brutal ausência quando tocam à porta... 

A Marty veio para nos ensinar a aceitar a imperfeição, a sermos menos críticos, menos exigentes com os outros (e como isto é importante para educarmos os nossos filhos) e foi tão especial que até nos deixou no dia em que eu tinha recebido uma péssima notícia, que me iria deixar muito triste e revoltada e que assim foi aceite de outra maneira, pois agora sei que não posso mudar as coisas com raiva, arrogância e sobranceria, pois não é com luta que se muda ninguém (nem o comportamento de um cão ou de um filho), mas sim única e exclusivamente com amor e compaixão.

Por isso, Marty, peço-te que me continues a iluminar ao longo da minha vida e que não me deixes esquecer da lição que me ensinaste, pois quero que continues a viver em mim através da forma como me ajudaste a ser uma pessoa melhor e que isso seja visível para os que comigo lidam.

És especial, és o "mê" cão e és o cão mais lindo do mundo!