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auto-terapia

um blog onde escrevo o que sinto e partilho as minhas ideias para quem quiser ler

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Tenho um filho igual a mim... e agora?


CrisSS

Pois é verdade, tenho vindo a constatar que o meu filho está cada vez mais parecido comigo! Assim, à primeira vista até parece uma coisa boa, mas de facto, não é... Não é, porque pelo que me apercebo as características de personalidade que ele herdou de mim não são aquelas das quais eu até me orgulho e inacreditavelmente parece que ele apenas herdou as coisas más!

Para agravar, em reunião com a diretora de turma esta semana tive a oportunidade de ver resumido o meu filho, essencialmente, a dois traços distintivos: distraído e conversador! E naquele momento a única imagem que me vinha à cabeça era uma ficha de avaliação minha desta altura onde apareciam inevitavelmente as mesmas palavras apenas com uma alteração de género: distraída e conversadora! E agora como lidar com isto?

Perante a minha perplexidade pelas semelhanças comigo, como por exemplo, a inabilidade para a educação visual, que se tivesse saído ao pai não teria, dado que ele é barra no assunto, e talvez para me tranquilizar (ou não), a diretora de turma lá foi dizendo que estava provado cientificamente que os filhos herdam a parte cognitiva da mãe e a parte emocional do pai! Imaginem o que eu fui gozada, lá em casa,  pelo progenitor masculino que passou a alardear a sua inteligência e QI elevados, lamentando a desgraça do filho que não pode ser herdeiro desses atributos.

Enfim, agora aqui estou eu, desesperada a imaginar já o meu filho num futuro longínquo: infeliz nas suas escolhas profissionais, sempre mais preocupado com os outros do que consigo próprio, incapaz na matemática, educação visual e disciplinas afins, mas sempre com uma palavra a dizer sobre tudo e sobre todos, às vezes sem pensar e arcando com todas as consequências que daí advêm. Têm que concordar que não é um bom prognóstico.

O mais engraçado é que, no geral, as pessoas querem que os seus filhos sejam iguais a elas ou que de alguma forma misteriosa consigam cumprir os destinos sonhados e muito almejados que muitos pais e mães definiram para si próprios e que por infortúnios aos quais eles foram completamente alheios não conseguiram concretizar e apenas têm agora esta última oportunidade de serem felizes através dos seus filhos e filhas. Mas este não é o meu caso...

Nunca quis que o meu filho fosse igual a mim e acho que não tenho assim um percurso tão invejável que ele deva usar como modelo ou imitar. Tive sempre muitas certezas e achei sempre que sabia o que queria (até mais do que os outros) e raramente ouvi conselhos ou acatei o que os mais sábios tinham para me dizer. Não pensem aqui que era uma anarquista sem lei nem roque (não era de todo), mas sempre fui um bocadinho senhora de mim, o que na minha vida, principalmente profissional, foi sempre encarado como sobranceria, tendo até muitas pessoas com quem me cruzei ficado com a imagem de que eu seria uma pessoa arrogante, autoritária e convencida.

Digo tive, porque lá acho que fui mudando um pouco e a vida lá se foi encarregando de me fazer ver que não sou a dona da verdade e que as coisas às vezes não correm como nós queremos. Mas isso foi um pouco mais tarde. E agora o que vejo é um filho muito parecido comigo, embora ainda muito invisível sem se destacar especialmente em nada, tal como eu o fui até aí aos dezassete anos.

Claro que como a maioria dos pais adoro o meu filho e cá estarei sempre para o apoiar e ajudar nas suas escolhas e opções futuras, mas gostava mesmo que ele fosse muito diferente de mim, que ele tivesse algum dom escondido, alguma capacidade extraordinária, alguma ambição ou sonho precoce que o definisse e o marcasse de forma indelével ao longo da vida.

No fundo, acho que o que eu queria era que ele descobrisse desde já o seu propósito na vida e que nunca andasse perdido ou tivesse que sentir a frustação de não estar realizado, ou seja, secalhar não sou assim tão diferente da mãe que queria ser bailarina e não conseguiu e não hesitou em colocar a sua filha no ballet aos dois anos ainda mal ela sabia andar.

O que eu quero é que ele seja mais feliz que eu e que aproveite esta vida da melhor forma, fazendo tudo o que tem direito sem hesitações ou dúvidas existenciais! Mas isto é algo que eu só sei agora, depois de tudo o que a vida me ensinou, por isso ele vai ter que fazer a sua travessia do deserto e eu apenas posso estar aqui para iluminar o seu caminho.

E quem sabe talvez ele tenha saído também ao pai e o tal lado emocional prevaleça, porque com o meu lado cognitivo secalhar ele não se safa...