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auto-terapia

um blog onde escrevo o que sinto e partilho as minhas ideias para quem quiser ler

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Vidas divididas: o dilema de ficar ou regressar


CrisSS

Todos nós já pensámos a dada altura das nossas vidas na possibilidade de emigrar, de sair do país, de ir à aventura. Claro que alguns de nós são mais aventureiros que outros ou estão mais desesperados, mas julgo que quase toda a gente já teve ânsias de sair daqui, de ir para longe, no fundo de começar uma nova vida!

 

Há quem diga que este desejo de sair do país faz parte da maneira de ser portuguesa e, de facto, desde sempre tivemos ao longo da história vagas sucessivas de emigração que foram mais ou menos acompanhando as nossas conquistas territoriais ou as nossas crises económicas.

 

Se somos um país de aventureiros, não sei, mas que somos um país de emigrantes é verdade. Talvez porque temos tanto mar e um país tão pequeno, ou talvez porque aqui não conseguimos levar a vida que sonhámos, lá vamos arriscando a sorte noutros países tão díspares, como a França já aqui ao lado ou a Austrália lá tão longe!

 

A minha ideia não é falar-vos da minha pretensa vontade de emigrar, pois eu própria não sei quais são os seus contornos, e às vezes acho que é uma vontade imaginária, utópica, um sonho eternamente adiado, que não encontra correspondência com os passos concretos que dou para o tornar numa realidade, e suspeito que o que se passa comigo também acontece a muitos de vós... A minha ideia é falar-vos um pouco do dilema de quem emigrou e vem a propósito de um belíssimo filme - "A Gaiola Dourada" - que aconselho a ver.

 

Ao contrário de outros, o filme não explora o drama da emigração de forma sofrida e angustiada, mas pelo contrário mostra-nos de forma muito simples e encantadora que a vida tem sempre os seus dilemas e a sua beleza, independentemente, de onde se está ou de onde se escolhe viver, e acima de tudo, torna evidente o que sabemos, mas às vezes preferimos esquecer, que é que viver se trata principalmente de fazer escolhas...

 

O filme retrata o dilema de uma família de emigrantes em França que tem de decidir se fica ou volta a Portugal. E que decisão! Não fazendo ideia nem de perto nem de longe o que é decidir algo deste tipo, senti um certa empatia com esta família, pois lembrei-me de familiares e amigos que vivem a mesma situação.

 

Quando se vai para outro país, salvo raras excepções, a ideia é sempre regressar, pois há qualquer coisa que nos chama de volta, as tais raízes, a tal herança familiar, a terra que se deixou, a família, as memórias, os amigos, ou algo tão simples como o bacalhau que é referência constante no filme de que vos falo.

 

Mas esse regresso que parece tão fácil, tão óbvio, não tem nada de simples. Como é que se volta e se deixa tudo o que se construiu? Como é que se regressa e se deixa os filhos para trás? Como é que chegamos à terra de origem e começamos uma nova vida, de novo? E isto depois de 20, 30, 40 anos...

 

Agora em agosto podemos encontrar em todo o nosso país estes emigrantes que voltam a Portugal ainda que apenas por algumas semanas adiando sabe-se lá para quando o regresso definitivo, para alguns eternamente adiado. E todos lhes perguntam para quando essa volta... E eles, sem saber o que responder, lá vão dizendo que está para breve, mas sabendo lá no fundo, que há um neto que vai nascer, ou que há um filho que vai casar, e que muito dificilmente conseguirão deixar a terra que os recebeu e que tem sido o seu lar durante tantos anos. Pois agora, é lá que estão os laços familiares mais fortes e é lá que se tem o trabalho e os amigos do quotidiano.

 

Ainda assim, para alimentar o sonho, muitos vão construindo a sua casa aqui e vão investindo na terra de origem as poupanças de uma vida. São as famosas casas dos emigrantes que jazem abandonadas durante todo o ano, ressurgindo para a vida no natal, na páscoa e no verão.  E tantas histórias eu já ouvi dessas casas que nunca chegam a ser habitadas pelos seus donos originais ou que só o foram por um curto período de tempo, já na velhice desses emigrantes finalmente regressados...

 

Pois, não deve ser fácil ser emigrante, e viver esta ambiguidade, no fundo esta dupla pertença a dois espaços, dois mundos diferentes, em permanente disputa de atenção e de ligação afetiva. São vidas divididas que não podem ser unidas e que obrigam os seus protagonistas a adiar uma escolha e, um dia, a ter de tomar uma decisão onde perdem sempre algo de precioso.

 

Mas não é de perda que nos fala o filme, é de mudança, é de surpresa, é no fundo das voltas que o mundo dá, para no final colocar tudo no seu lugar. É esta capacidade que a vida tem de nos surpreender que a faz maravilhosa e que nos leva a acreditar que por mais dolorosas que sejam as nossas escolhas elas abrem sempre portas para novas realidades. Por mais difíceis que sejam as nossas decisões elas são sempre as mais acertadas naquele momento e o universo se encarregará de nos mostrar isso.

 

Por isso meus amigos decidam, optem, façam escolhas! Não fiquem no impasse, na incerteza, na indefinição. Mesmo que doa, vai valer a pena, seja ela qual for a vossa escolha...