Empatia versus indiferença
CrisSS
Ultimamente há uma ideia que tem sido recorrente na minha cabeça e me tem atormentado o espírito que é como descortinar a melhor forma de passar certos valores e princípios que para mim são fundamentais ao meu filho...
Muitos dizem que isso acontece naturalmente e que não precisamos de nos dedicar muito ao assunto. Já as ciências sociais defendem que é através do processo de socialização que durante a infância as crianças interiorizam a cultura e as normas e valores do seu contexto familiar, ou seja, através da imitação dos comportamentos dos pais. E outros ainda argumentam que não há muito que possamos fazer para assegurar que os nossos filhos se virão a desenvolver desta ou daquela maneira, pois a sua personalidade já está pré-definida à partida...
Eu, como socióloga, há uns anos atrás não teria dúvidas em acreditar que o meio social em que a criança se desenvolve é que determina todo o seu desenvolvimento futuro, mas agora, já com mais alguns anitos em cima, tenho vindo a conceder cada vez mais espaço à teoria de que há certas coisas que nascem connosco e ponto!
Quer isto dizer que me preocupa o facto de não conseguir ensinar ou transmitir certas coisas muito importantes ao meu filho (na minha opinião, claro) mas que definem como eu sou e que em momentos de baixa auto-estima até procuro valorizar como qualidades, já que outras me parecem faltar...
Uma dessas qualidades é a capacidade de se colocar no lugar do outro! Para mim, nos tempos actuais, esta é uma das qualidades, senão mesmo a qualidade mais importante, que um ser humano deve ter para viver em sociedade. Os psicólogos chamam-lhe empatia, embora essa ideia tenha mais a ver com a capacidade de ouvir o outro e de com ele estabelecer uma relação. Eu gosto mais do sentido antropológico dado a esta ideia que tem a ver com conseguirmos entrar na cultura do outro, vivendo da mesma forma, ou seja, colocando-nos na mesma situação, procurando ver o mundo pelos mesmos olhos.
Eu sei que dito assim parece muito difícil ou até mesmo impossível, e pior ainda, complicado de ensinar, pois parece ser uma característica que ou temos ou não temos, mas eu quero acreditar que haja alguma maneira de ser possível ensinar alguém a colocar-se no lugar do outro. É que isso é tão importante...
Se todos tivéssemos essa capacidade as guerras não aconteciam, os conflitos não existiam, a pobreza diminuiria, a natureza não seria destruída, e por aí a fora, pois todos antes de agir pensariam nas consequências dos seus actos para os outros, porque conseguiriam antes imaginar o que lhes aconteceria e pensar que poderiam ser eles a estar nessa mesma situação.
Se todos se conseguissem colocar no lugar do outro ainda que apenas por breves momentos teriam dificuldade em aceitar que houvesse desemprego, que houvesse crianças a morrer à fome, que houvesse idosos a morrer sozinhos sem assistência médica, que houvesse famílias sem casa, pois o seu sofrimento poderia ser deles também um dia e ninguém gostaria de estar numa situação como essas.
Mas a grande mais valia desta capacidade ou qualidade do ser humano se colocar no lugar do outro é ser a melhor forma de combater a indiferença, que por contraposição é, para mim, o pior mal da nossa sociedade. Quem se coloca no lugar do outro não consegue ficar indiferente ao que o outro está a passar e ao que o rodeia... sofre com o mal dos outros, tenta ajudar e luta por soluções. E a indiferença tem que ser combatida de todas as formas possíveis e imaginárias!
E aqui surge alguma esperança em relação à questão que me preocupa: ensinar a não ser indiferente já me parece ser mais fácil! Se eu ensinar o meu filho a não ficar indiferente ao sofrimento dos outros, a tentar sempre perceber o que o outro está a sentir, a procurar ajudar como lhe for possível, a não voltar a costas quando vir algo que o incomoda, isso é de certa forma ensinar-lhe a colocar-se no lugar do outro e essa será a minha meta!
Sim, meus amigos e amigas, porque acreditem, o futuro dos nossos filhos só estará garantido se lhes conseguirmos ensinar a não serem indiferentes ao que se passa à sua volta, se os conseguirmos fazer compreender que o que se passa com o outro também lhes diz respeito, no fundo, se os conseguirmos fazer acreditar que podem fazer a diferença...
E que são eles o motor da mudança!