Para o meu filho Daniel
CrisSS
Como já vos disse por aqui gostava de ter mais tempo para me dedicar à escrita. Ainda assim, lá vou conseguindo escrever nos momentos mais importantes da minha vida e nos quais sinto que preciso de partilhar o que estou a sentir. Este é um desses momentos: o meu filho mais velho entrou para a universidade e hoje faz 18 anos!
Que orgulho que sinto pelo percurso do meu Daniel! Quem me conhece sabe que sou uma mãe muito exigente e crítica (como sou em tudo), um pouco emotiva e ansiosa, mas extremamente dedicada e presente e por causa destas características, às vezes duvidei, que o percurso escolar do meu filho terminasse num curso superior, mais ainda à primeira! Ele sabe bem que sempre foi esse o meu sonho para ele, não porque acredite que todos os jovens têm que seguir este caminho, mas sim, porque tenho a convição de que este caminho seria uma mais valia para o meu filho e para todos os jovens. Cada vez se torna mais evidente que a educação é a arma mais poderosa contra a ignorância, a prepotência, a violência e a intolerância, e é apenas no ensino superior que os jovens têm hipótese de abrir os seus horizontes, refletir e duvidar, ter pensamento crítico, criar consciência coletiva e aprender a arriscar, a empreender, a sonhar... Por isso talvez todos deveriam ter oportunidade de frequentar o ensino universitário, que também poderia ter uma base inicial onde as ciências sociais e as línguas fossem o tronco comum e depois cada um pudesse escolher as áreas com as quais mais se identificasse, fossem elas as engenharias, a saúde, o ambiente, o desporto, a matemática, o design, as tecnologias, a comunicação, o teatro, e todas as outras que existem e que fizessem sentido para a vida em sociedade, pois não vejo porque um estudante universitário não pode também vir a ser eletricista, agricultor ou barbeiro. Mas esta conversa sobre o nosso sistema de educação dava pano para mangas e não é o meu objetivo hoje.
Hoje queria dizer-vos que o meu filho não foi um aluno de quadro de honra, não foi o mais bem comportado da turma (até pelo contrário), não foi sequer aquele que sempre afirmou ter uma vocação e se esforçou até ao limite para a seguir, mas foi um herói porque seguiu o rumo que sempre lhe aconselhei, definiu a sua forma de avançar nesse caminho, traçou a sua meta e conseguiu alcançar o seu objetivo! E é agora aluno do ISCTE, no Curso de História Moderna e Contemporânea!
Sobre este feito queria dizer-vos que nada prepara melhor os nossos filhos para o futuro do que acreditarmos que eles são capazes, estarmos sempre ao lado deles para o que der e vier e fazermos das tripas coração para os deixar escolher e errar, ou acertar, porque só assim se cresce e aprende, e quer queiramos, quer não, eles não são nossos, são do mundo e hão-de voar, mais cedo ou mais tarde... e isto sim é o amor incondicional...
Agora que já vos falei do que me encheu o coração, vou também falar-vos do que me está a doer: o meu filho fez 18 anos, entrou para a universidade e saiu de casa, foi estudar para Lisboa e eu agora já sei o que passaram todas aquelas mães antes de mim que viram as suas crias saírem do ninho tão cedo, sem pré-aviso e tiveram que mais uma vez amar como só as mães sabem amar, que é amar mais os filhos do que a si próprias e deixarem-nos ir, porque é isso que eles querem e os faz felizes... Não é fácil, não pensamos que fosse acontecer já, na nossa cabeça eles iriam ficar sempre por perto, sob os nossos cuidados, até que nos habituássemos à ideia de que eles teriam que ir...
Não me interpretem mal, não sou uma mãe galinha, tenho muito bem presente o que foi a minha juventude, sei que nesta idade o saudável é termos autonomia e alguma independência, sempre o incentivei a ir, a sonhar, a viajar, a querer mais, fosse aqui ou noutro lugar do mundo, mas agora sei que é como se me tirassem uma parte de mim e a levassem para parte incerta, sem eu ter a certeza de que a voltaria a ter ao meu lado. É isto, então, que é ser mãe quando os filhos crescem e se estão a tornar adultos.
A vida leva-nos sempre para a frente e às vezes não nos deixa ter tempo e espaço para parar, para apreciar, para gozar o momento, a fase em que estamos e isso com os filhos ainda é mais evidente... Estamos tão ansiosos com o futuro ou tão marcados pelo passado, que nos esquecemos de viver o presente e aproveitar ao máximo todo o privilégio que é ser pais! E de repente damo-nos conta que já passaram 18 anos... 18... foi num instante, passaram muito depressa e agora estamos a tentar reviver todos os momentos preciosos da nossa história de amor com os nossos filhos...
Lembro-me tão bem quando nasceste, Daniel, um bebé lindo, 3450kg, 51cm... como começaste logo a mamar, como adoravas estar nas maminhas, como eras sorridente... lembro-me de te ter começado a chamar "minhoca", o meu "minhoquinha"... lembro-me da fraldinha que não largavas, com a qual dormias enrolada no pescoço (que confusão que fazia a toda a gente) e depois mais tarde do Noody, companheiro de aventuras no exterior, quando foste para a creche... lembro-me que sempre foste muito corajoso e mesmo quando tinhas medo seguias em frente, como quando foste para a escola primária e eu tive de te deixar no portão e tu lá foste sozinho, enquanto eu escondia a cara para não me veres chorar... lembro-me quando decidiste ir estudar para uma escola secundária em Lisboa no 9º ano (morávamos em Odivelas) e foste de transportes, todo orgulhoso, muito crescido, enquanto eu ficava tão preocupada de ter ver assim a ir pelo mundo tão pequenino ainda... e lembro-me desta sexta feira quando te deixei no expresso para ires pela primeira vez à apresentação na faculdade, todo altivo e entusiamado, mas ainda assim a ligares-me logo assim que lá chegaste...
O que te posso dizer mais: adoro-te meu filho, és o meu bem mais precioso (agora juntamente com o teu irmão), o meu maior orgulho, e estarei sempre aqui para ti, aconteça o que acontecer... Nunca duvides disso, porque o meu amor por ti será sempre maior do que qualquer desilusão que me possas dar!
Vai agora filho... vai ver o mundo lá fora... na certeza porém, de que o melhor da vida está aí dentro de ti e é teres a certeza de que és amado e que tens amor para dar e partilhar com quem o merecer!
Da tua mãe que te ama,
Cristina